Após uma bizarra rasteira da vida, a morte de seu marido, irmão e genro quase que simultaneamente, a cantora Marina de Oliveira “não para”, mostrando que viver o que se canta é algo importante.
Mesmo tendo seu estilo musical sempre um pouco fora do eixo “adoracional meloso”, que o mercado e a igreja nacional aprova de olhos fechados, ela consegue reunir alguns seguidores de olhos e ouvidos bem abertos, onde sempre são convidados a confrontar e a experimentar estilos, sons e letras um pouco fora do comum. O que, aliás, é de extrema importância a aqueles que ao menos se dizem “ecléticos”.
Meio que forçada e quase que por coincidência, a diretora artística encontrou o repertório jogado ao fundo de seu carro. Onde levando para sua mãe, soube ter negado 1 ano atrás o mesmo. Gravado em tempo recorde, Marina entrou em estúdio. E mesmo visivelmente abalada, gravou uma a uma as canções do cd “Na Extremidade”.
A princípio tudo parecia muito clichê. A capa, “a La” arte do cd de PG e até mesmo um pouco sem noção.. a música antes apresentada na coletânea Amo Você 16.. o arranjo de Rogério Vieira.. enfim. Tudo assustava e causava certa estranheza a quem tinha entendido a proposta tão linear e simples do cd anterior “Eu não vou parar”.
Porém, fazendo uma força maior, ouvimos por inúmeras vezes o cd até amadurecermos uma idéia concreta sobre este que sim, tem um significado singular na carreira de uma das artistas que mais coleciona trabalhos e títulos na história da música gospel no país.
1) Na extremidade
A gente sabe que Anderson Freire tem uma coisa meio “Harry Potter” na hora de compor as músicas. A maioria das melodias “gruda” na gente de forma instantânea. E mesmo não tendo sido este o efeito inicial da canção, hoje é quase mantra implantado em nossas mentes.
A letra fala sobre os questionamentos e desafios da fé na vida da intérprete. E que ainda, ela não precisa questionar. Apenas aceitar e adorar. È uma música interessante que apenas careceu um pouco mais de back e de um arranjo mais intenso. Marina também parecia um pouco “travada” vocalmente. Mesmo mostrando ter tido acompanhamento com uma fono. Que aliás, (risos) não era Lílian de Azevedo... Psiu.. abafa...
2) Migalhas
Prima de todas as canções “pulantes” e divertidas já gravadas anteriormente. Nem precisamos dizer que ADORAMOS. Só o trocadilho “não vou comer migalhas da mesa do Rei” já é suficiente para você que curte um “oba oba”.
3) Chama por Você
Esta parece ter sido uma tentativa de algo diferente. A gente sabe que a cantora tem tentado entrar com tudo no mundo do “rock”. O que sem dúvida deve irritar e muito a alguns tradicionalistas de plantão. A música de cara divide opiniões e gostos. Principalmente porque ouvindo ao cd é uma coisa e em apresentação ao vivo é outra. Um ponto forte a ser destacado é o ritmo estilo rock progressivo e os gritinhos eufóricos, que cativam os fãs de carteirinha. Ou seja, é uma ótima canção e bem fora do comum.
4) Governa-me
Não adianta dizer que ela gostou de gravar essa, que muita gente amou, se arrepiou, porque essa é das estranhas. È algo meio “Sula Miranda” em “Siga bem caminhoneiro”! Não. Desculpem mas é muito caipira.
5) Amor Incorruptível (versão 2)
Depois da melosa versão de fossa no Amo Você 16, ela ganha essa roupagem mais “estradinha”. Sim. Melhorou e agradou. Nem importa se a letra é boba e sem noção. Essa coisa de “não quero mais um amor de homem ou mulher, mas só o de Deus” não rola. Tudo bem que o amor de Deus é o máximo, mas ninguém quer só “fazer a diferença” né? ” Fazer filhos” também é interessante. Como dizia Fernanda.. dá-me filhos se não morro!
6) Força do Senhor
Esta música é aquela velha tentativa de tentar mascarar uma canção pentecostal em algo “pop”. O interessante mesmo é perceber o quão frases do tipo “eu não vou olhar para trás” e “eu não vou parar...” conseguem dar o ênfase necessário a qualquer música evangelística. Enfim... É uma que ganha apenas por isso. Mas não chama a atenção em quase nada.
7) Terceiro dia
É o famoso rock básico. A caixa da bateria fica no “tuntá tuntá tuntá” até alguém perceber que a música é só isso mesmo. O tema de “chave do inferno” já deu o que tinha que dar. Fora que isso em música agitada fica meio sem sentido. Ficou meio “ThunderCats”.. sei lá.
8) Nas madrugadas
Parece aqueles CDs infantis “sono do bebê vol1”. É bonitinha, estranha e não fixa.
9) Renunciar
É quase uma continuação de “migalhas”. Essas músicas nos fazem pensar como seria um clipe de Marina gravando bem ao estilo “Fresno” e essas bandas meio emos de rock. Imagine ela dentro de uma mansão, cheia de jovens bebendo e pulando, gente se jogando na piscina e ela na sala, cantando com sua banda super “hardcore”. Essa a gente pagava pra ver a MK executando em vídeo. Mas, se Pamela não pôde rebolar em “eu adorei”, que dirá isso!! (risos)
10) Boas novas
Ótima. Quem curtiu a 10 anos atrás “Grande é o Senhor” (Ele Reina) do cd Aviva vai amar isso. É quase um resgate do estilo dançante “soul” da cantora. É o tipo de música que você vai acabar ouvindo todo dia pra sair de casa, tomar banho e limpar a casa.
11) Ofício Adorador
Uma música basicamente congregacional que trás uma frase bonita. “quero renascer, como em todas as manhãs, no teu amor”. No clima “roupa nova” a canção serve pra "encher linguiça" e ganhar um nome extremamente clichê. Será que alguém tem na carteira de trabalho “profissão: adorador”?
Pai.. perdoa.. Porque os compositores já não mais sabem o que fazem.
12) Feridas abertas
O nome já diz tudo. No especial 93 ela contou a dificuldade em gravar a faixa. Uma belíssima interpretação que ganha como a canção lenta mais linda do cd. Todos aqueles suspiros e respirações profundas típicas de Marina. Além de ter uma participação relâmpago de Jairo Bonfim.
Se estivermos corretos este ainda não é o novo marco de Marina. Seu último cd 5 estrelas foi “um novo cântico” gravado em 2002. Se os cálculos conferem, seu próximo cd maravilhoso será em 2012, né? Mas como o mundo vai acabar neste ano...
A cantora pode e deve ter todo o investimento da gravadora. É uma pena que o preconceito ao estilo, ao timbre e outras coisas mais acabam por atingi-la e deixá-la meio a margem do mercado.
Nossa recomendação era a de que Marina virasse a chave da criatividade mais uma vez dando uma guinada no estilo. Ela poderia, por exemplo, migrar para o estilo quase eletrônico, como a maioria das cantoras internacionais e maduras tem feito. Ou quem sabe, retornado um pouco ao estilo blues de antigamente. Mas, cremos que este cuidado e bom senso ela terá em seu próximo repertório assim como para o novo DVD! Esperemos...
Destaque para “Na extremidade”, “Migalhas”, “Amor incorruptível”, “boas novas”, "renunciar" e “feridas abertas”.
(de 0 a 5) 4 Estrelas para um cd que mesmo gravado muito rápido não deixou de ter qualidade. Esse trabalho é como aquele bom vinho. Não adianta beber direto. É preciso degustá-lo. Além disso, quanto mais velho melhor fica. Tanto que esperamos até agora para fecharmos a análise.
Porém o mais importante.. um trabalho profundamente emocional, que ganhou uma interpretação única diante de circustâncias tão escabrosas como as vividas pela cantora. O que sem dúvida aumenta em muito o valor do produto. Parabéns.
Vale a pena comprar?
Vale.